domingo, 17 de outubro de 2010

Madeleine Peyroux - Dance Me To The End Of Love

Madeleine Peyroux -- Smile

Caminhos da Comunicação

Comunicação, Educação e Cibercultura: Novos Horizontes da Formação Humana na Sociedade Digital

Caminhos da comunicação

Ao levar em consideração um grande espetáculo multimídia de solidariedade, tecnologia e uso dos recursos midiáticos com alto grau de sofisticação inédito para o tipo de evento, o recente resgate dos 33 mineiros que ficaram soterrados na mina San José, no deserto do Atacama, no Chile, por 70 dias, deixa evidente o uso das ferramentas tecnológicas necessárias para trazer ao mundo aventuras dramáticas, tragédia, ou histórias de esperança.

A operação de resgate exibida ao vivo para dezenas de países e quase um bilhão de telespectadores, sem contar os inúmeros internautas, que acessaram de casa, dos blackberries, do trabalho, por meio dos seus e-Books, ou até mesmo por suas televisões de Leed Full HD conectadas à net... Enfim trata-se de um novo horizonte na sociedade digital, que não há como escapar. E esta leitura, pelo menos em minha trajetória, foi possível a partir do momento em que entrei em contato com Mills, Berger, Setton, Trivinho, Giddens, Orozco, Belloni, e tantos outros doutores, mestres ou especialistas na arte de contar, entreter e trazer para reflexão a cultura das mídias, a tecnologia, a comunicação, a cibercultura e suas influências na educação para, com e sobre este mundo.

Ao iniciar a busca por algo que pudesse complementar uma leitura jornalística e organizacional sobre esta panacéia de ferramentas de comunicação, entretenimento e educação a que presenciamos a cada dia, encontrei subsídios teóricos ao que temos recebido, como bombardeio de informação, neste curso de extensão intitulado: Comunicação, Educação e Cibercultura: Novos Horizontes da Formação Humana na Sociedade Digital.

Como a proposta era abordar os desafios impostos pela cultura comunicacional, tecnológica e das mídias, buscando compreender como as práticas educativas refletem o mundo e a cultura em que estão inseridos, não podia deixar de mencionar que me foi proporcionado, ou ao menos instigado, a ter este olhar de estranhamento, sobre o que podemos fazer com a cibercultura, e a cada dia mais buscar uma formação a partir do questionamento e da análise.

Considerando este novo contexto e como a formação dos indivíduos e a educação - sendo um dos campos de atuação deste ser - reagem à cibercultura, destaco uma reportagem divulgada no site do Instituto Alana, em novembro de 2009, ao relatar casos judiciais relacionados a criança e consumo. O texto aborda a programação “Baby TV”, direcionada para bebês de até três anos, que antes era transmitida diariamente pela manhã no canal FOX Life, e que agora se tornou um canal 24 horas. Na oportunidade, o anúncio do programa o divulgava como produzido para crianças menores de 3 anos, capaz de promover o aprendizado e o desenvolvimento saudável. No entanto, de acordo com diversos estudos acadêmicos, a exposição precoce de crianças a conteúdos midiáticos poderia afetar negativamente o desenvolvimento infantil e ainda não foram comprovados efeitos positivos desse tipo de conteúdo para bebês. Na mesma reportagem, trazia informações de acordo com pesquisa da Kaiser Family Foundation, 42% das crianças norte-americanas menores de dois anos assistem frequentemente a vídeos e DVDs. Ainda, a pesquisa Early Television Viewing is Associated with protesting turning off the television at age 6 (Assistir à televisão precocemente está associado a protestos em desligar a televisão na idade de seis anos) indica que quanto mais tempo se passa em frente à televisão quando bebê, maiores são as chances de que a criança tenha dificuldades, resista e/ou proteste, aos 6 anos ou mais, em desligar a TV. No Brasil, crianças de zero a 12 anos passam, em média, quase cinco horas por dia em frente à TV (Ibope/2008).

A questão colocada, embora controversa por ainda faltar comprovação e consenso científico dos efeitos desse tipo de programação nas crianças considerando os potenciais malefícios/benefícios que a exposição precoce à mídia pode causar em bebês, vale para uma reflexão se levarmos em conta o indivíduo, a sociedade e o contexto em que vivemos.

Com base neste exemplo, e também ao fazer uma leitura dos atuais meios de comunicação e interação com a educação na sociedade atual, tendo a concordar com a visão de Eugênio Trivinho ao mostrar que vivemos em uma sociedade tecnológica infocomunicacional, e que a cibercultura contribui com a educação ao formar para a crítica a este mundo. Ou ainda, a proposta colocada por Maria da Graça Setton ao mostrar que a cibercultura vem para promover a integração, colocando o indivíduo em uma contextualização com foco em formar para e neste mundo.As mídias, enquanto matrizes de cultura, orientam a construção do pensamento, a ação dos indivíduos e a relação com os demais; organizam o mundo e regulam mentes.

Esta última colocação só reforça o que foi posto acima no caso da TV para bebês, ou ainda, algo que experienciei nos últimos meses, ao ter contato com uma pré-adolescente que acabara de aprender o significado da palavra “bulling e também de ter aprendido a criar websites/blogs...mas, infelizmente ao juntar estes dois conhecimentos, cabou praticando um “ciberbulling”, no momento em que criou um blog para falar mau de seus próprios amiguinhos....Ou seja, a mídia a que ela estava exposta realmente orientou a uma construção do pensamento, porém ela foi regulada por uma falta de orientação sobre o tema e seus riscos. Isso me leva a refletir sobre as colocações de Mills e Giddens com relação a este indivíduo. Ainda que o indivíduo seja ele próprio, a sociedade o molda e os mecanismos de desencaixe colocados pela modernidade fazem como que seja muito mais difícil localizar a centralidade das coisas e seus valores. É o caso da pré-adolescente citado acima e mais uma vez leva a reflexão sobre e educação nesta modernidade, e como os agentes estão sendo construídos pelas instituições que educam ( escola, igreja, família, mídia). Como ideia trabalhada por Berger ( em a Construção Social da Realidade, 1966) com a linguagem, e por meio dela, vários esquemas motivacionais e interpretativos são interiorizados com valor institucional definido, por exemplo, querer agir como um menino valente.

O processo de modernização “distanciou” os indivíduos e as comunidades das sociedades tradicionais destas noções estreitas de tempo, espaço e status. A modernização “desencaixou” o indivíduo feudal de sua identidade fixa no tempo e no espaço. Giddens ( em As conseqüências da modernidade, 1991) diz que a modernização e a modernidade são baseadas em um processo, segundo o qual uma ideia fixa e estreita de “lugar” e “espaço” (que prevalece nos tempos modernos) são gradualmente destruídas por um cada vez maior conceito de “tempo universal”. Giddens descreve isso como uma chave para o processo de desencaixe. Segundo ele o desencaixe é o “deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço”. Com esta bagagem, é possível refletir sobre de que forma o aprendizado tem sido posto na formação dos indivíduos.

Rogério da Costa ao mencionar, Authier e Lévy, quando propunham uma visão da aprendizagem a partir de coletivos em sinergia, onde os indivíduos conseguiriam interagir e trocar conhecimentos e competências entre si, o professor assumindo ali a figura do mediador ou do orientador, destaca que o grande desafio sempre foi o de permitir que aqueles que constituem um pequeno grupo, uma turma escolar ou mesmo toda uma população, uma classe profissional etc, pudessem estabelecer sinergia a ponto de manterem entre si um nível de troca de conhecimentos satisfatório. A isso chamaram Inteligência Coletiva. Ele afirma ainda que alimentar um processo como esse não é nada evidente, pois não é óbvio que as pessoas estão dispostas a trocar conhecimentos em qualquer situação. Afinal, o que vemos nos dias de hoje com a cibercultura por meio das redes sociais é uma troca constante de informação e não saberes.

Já, Maria da Graça Setton, em seu artigo “Família, escola e mídia: um campo com novas configurações” também traz a ideia de valores e identidade deste sujeito na atualidade, que tem poder de negociação frente as influências que recebe do meio familiar, escolar e mídia. Sendo que a família é a fonte de identidade social das pessoas, transmitindo os valores éticos, morais e religiosos; a escola permite o acesso ao conhecimento ( podendo ampliar ou restringi-lo); e a mídia – como conceito abrangente - ao circular informação e entretenimento também transmite valores e padrões de conduta diversificado. E este três eixos fazem parte das matrizes de cultura e socialização do indivíduo, indo muito além da educação formal, mesmo quando não se quer , ela acontece, transmitindo valores mesmo que não intencional.

E quando entramos na sala de aula, para entender de que forma todos este valores estão sendo transmitidos por meio de distintos saberes, e também para compreender o papel dos meios de comunicação no processo de educação, que se convencionou chamar Educomunicação, vamos muito além da tecnologia como ferramenta de suporte. Com certeza há o papel do instrumento, mas também do orientador, neste instante surge um paradigma em relação aos processos educacionais, que podem estar parametrados no ensino presencial, e, atualmente, nas distintas formas de abordagem e educação à distância (EaD). Quando o objetivo é educar para formar indivíduos com capacidade crítica a partir das diferentes comunicações de massa, de forma com que todos possam expressar suas capacidades, sejam elas por meio de recursos tecnológicos ou não, toda e qualquer abordagem e abrangência deveria ser considerada como um avanço e coadjuvante neste processo de formação. Por exemplo, as formações de jovens e adultos por meio de ensino à distância, possibilitando novas áreas do conhecimento, interdisciplinaridade, tendo a comunicação como ferramenta e meio para este ensino transformador e mais acessível. Como afirma a professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida ( em Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem), “os avanços e a disseminação do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) descortinam novas perspectivas para a educação a distância com suporte em ambientes digitais de aprendizagem acessados via internet.” Por meio das tecnologias de informação e comunicação foi possível flexibilizar o tempo, quebrar barreiras espaciais, proporcionar uma troca instantânea de conteúdos, nunca antes imaginado, explorando todos os potenciais de hiperconectividades com foco na produção de conhecimento. E esse modelo, está sendo implementado não apenas nas salas de aula convencionais, no meio empresarial, por exemplo, é uma prática o uso da ferramenta E-Learning para gerenciar inúmeros treinamentos, proporcionando acesso ao conhecimento, com menor custo e em menos tempo. Com certeza, para poder se tornar uma prática e metodologia de ensino eficaz exige-se um maior grau de autonomia, disciplina entre os indivíduos. Sendo uma mudança de paradigma na educação.

Ao trazer estas contribuições, meu intuito é chegar à interconexão generalizada que presenciamos, ou o conceito “do mundo a um clique” e toda a interatividade que as novas mídias e tecnologias proporcionam às diferentes formas de educação e comunicação. Com isso surge um novo problema: Como captar a atenção das pessoas? Estamos presenciando a um novo ser humano ou a um ser humano influenciado pela cultura de época virtual? Esta dicotomia – corpo virtual ( internet) x virtual incorporado (espírito de época) - gera um novo comportamento, cria uma abrangência inimaginável de espaço-tempo e uma velocidade colocada por Eugênio Trivinho como dromocrática.

De acordo com Trivinho (em Dromocracia Cibercultura e Transpolítica: Contextualização sociodromológica da violência invisível da técnica e da civilização mediática avançada), o “conceito de dromocracia teve, no âmbito das ciências humanas e sociais, a sua gestação e fundação crítica na obra de Paul Virilio (1977). De acordo com ele Dromos, prefixo grego que significa rapidez, vincula-se, obviamente – a partir da dimensão temporal da existência –, ao território geográfico (na qualidade de coordenada espacial), portanto à urbis.

Ou seja, esta rapidez a que somos submetidos, a lógica do mundo virtual, a interatividade proporcionada pela TV, web, rádio-web, a forma complexa, multiplicidade, a instantaneidade com que recebemos as informações de cada um dos 33 mineiros soterrados na Mina San José, no Chile, ao terremoto que atingiu milhares de pessoas na China, e também no Haiti, o dia 11 de setembro que ficou marcado para sempre na história dos Estados Unidos e do mundo. Ao longo dos tempos, a cobertura da mídia de forma geral têm sido importante ao testemunhar a História. Estando presente nos principais palcos de acontecimentos históricos, para transportar a realidade ausente para o conhecimento daqueles que não estiveram presente durante o desenrolar de cada fato, por meio de um manancial de informações veiculadas com suporte da internet, televisão, rádio, imprensa escrita. E estes fatos chegam a todos os lares, escolas, servem como matéria em sala de aula, discursos políticos, educação para a socialização do indivíduo e para a sua formação , com olhar crítico, para e neste mundo.


Crônica 245 - "A que viemos?..."

Crônica 245 - "A que viemos?..."
http://www.monica.com.br/mauricio/cronicas/cron245.htm